quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Vou voltar pro meu passado

       
Cheguei na capitá
e ja fiquei mei azoado
com aquela barulheira
buzina pra todo lado
minino novo chorando
mulher sendo roubada
carro vei buzinando
moto veia quebrada
dando um mói de pipoco
quase que eu fico moco
com toda aquela zoada

Vou voltar pro meu lugar
donde nem devia ter saído
deitar na minha rede
escutar todo mugido
matar a minha sede
com meu suco preferido
respirar o ar mais puro
e não essa fumaceira
aqui se ver o ar
o grude e a poeira

Aqui a comida é toda empacotada
se sente o gosto do plastico
e da comida enlatada
sinto falta do toicin
dos ovo e da rabada.
comida de verdade
comida que tem sustança
lá eu era forte
parecia uma criança
aqui me sinto fraco, velho
e acabado, talvez seja o ar
talvez seja o enfado,
vou voltar pra minha terra
vou voltar pro meu passado.

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

4 Ave Maria bem cheia de graça


  Rezo quatro ave-maria
Ao Glorioso São Gerome
Pra que nos livre da dor
Da agonia e da fome
Duma casa com goteira
Cacimba longe de casa
Dente de piranha preta
Dum teco-teco sem asa
Dum sem pensar no juízo
Dum teje preso ou cadeia!
De sofrer uma cambrainha
Bem cedo de manhãzinha
Por ter pisado sem meia.
Da tercerez desse mundo
De passagem só de ida
Ferroada de lacrau
Coice de besta parida
Nos livre da companhia
Dum cabra chato e pidão
Dum sujeito bexigoso
Sem figo e sem coração
Duma tosse igrejeira
Dum trupicão de ladeira
Duma laigada de mão
Nos livre da punição
Da saúde canigada
Pois a enxada na mão
É melhor que mão inchada
Nos livre duma dentada
Dum vira-lata ispritado
Picada de mangangá
Dum sordado macriado
Dum baque de rede pensa
De briga de má-querença
Dum jogo marradiado.
Nos livre dum nôro besta
Ou duma genra fregona
Que Zé meu abaixe o facho
Pro lado daquela dona
Nos livre duma visage
De alma braba e defunto...
Puxando agora de banda
Disgaviando o assunto
Nos livre daqui pra diante
Do roubo dos governante
Coisa que duvido muito.

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Agruras de lata dágua

 
E eu que fui enjeitada
Só porque era furada.
Me botaram um pau na boca,
Sabão grudaram no furo,
Me obrigaram a levar água
Muitas vezes pendurada,
Muitas vezes num jumento.
Era aquele sofrimento,
As juntas enferrujadas.
Fiquei com o fundo comido.
Quando pensei que tivesse
Minha batalha cumprido,
Um remendo me fizeram:
Tome madeira no fundo
E tome água e leva água,
E tome água e leva água.
Daí nasceu minha mágua:
O pau da boca caía,
Os beiços não resistiam.
Me fizeram um troca-troca:
Lá vem o fundo pra boca,
Lá vai o pau para o fundo.
Que trocado mais sem graça
Na frente de todo mundo.
E tome água e leva água
E tome água e leva água.
Já quase toda enfadada,
Provei lavagem de porco,
Ai mexeram de novo:
Botaram o pau na beirada.
E assim desconchavada,
Medi areia e cimento,
Carreguei muito concreto
Molhado duro e friento,
Sofri de peitos aberto,
Levei baque dei peitada.
Me amassaram as beiradas,
Cortaram minhas entranhas.
Lá fui eu assar castanha,
Fui por fim escancarada.
Servi de cocho de porco
Servi também de latada.
Se a coisa não complica,
Talvez eu seja uma bica
Pela próxima invernada.
E inverno é chuva, é água,
E eu encherei outras latas
Cumprindo minha jornada.

Hoje em dia viadage mudou de nome

Vou falar agora dum povin adolescente
que se divide em tribo e são um pouco diferente
é tudo de cabelo lambido, brinco e tatuage
eles tem um mói de nome mas pra mim é viadage
ta tudo hoje muito mal acostumado
sai dando a roda por aí e ainda diz que num é viado
e é tudo colorido parecendo umas pintura
pra mim tudo é viado cada um com a sua frescura
eu num to com preconceito
mas so de olhar p o sujeito
a vontade que da é d meter a mão nos peito.
Hoje em dia num tem idade p ser viado
pode ser novin e ja ter jeito d safado
no meu tempo o q se tinha era viado assumido
agora é emo, bi e colorido
hoje em dia ta uma verdadeira loucura
mas como eu digo cada um cm sua frescura.

A morrença dos meus cumpade


(Ninguém sabe se a morte é virgula, ponto-e-vírgula ou ponto final
No interior, quando morre um “cumpade”,
Mas desses “cumpade” de alma boa e manso viver,
Aí o matuto, lamentando essa perda, diz:
“a morte é um doido limpando mato”
"a morrença dos meus cumpade” trata dessa edição de capa dura da vida)
Mas como é que pode?
Dois caba tá vivo,
Forgoso, garboso,
Da vida se rir!
Os coro da testa sem nunca franzir,
Disposto na luta,
Lutando com pente,
Sem mesmo dar canso de ser um vivente,
Um corre pro sul mó de “podregir”,
O outro “pogrede” mesmo por aqui
A morte carrega os dois indivíduo,
Dá uma descurpa:
“morreu por derito,
O outro, coitado, morreu de nuí.”
Cumpade “coitim” bateu a biela,
Sem “frei” nas estrada, em riba dum fó.
Pedim defuntou-se no “mei” dum forró,
Honório pifou com a mão na bainha,
Quem enviuvou gorete e ritinha,
Foi joão “cascaver” e bento cotó
Bié de zé tôta fechou o paletó,
Mudou-se pro céu cumpade biliu,
Cumpade zé danta ninguém nunca viu,
Mas dizem que foi-se daqui pra “mió”.
Quem bateu as bota foi zé bacamarte,
Findou-se de vez cumpade zulu,
Quem empacotou-se com tanta pitu
Foi pinga, meloso, meota e topada.
Ginura já tava na última morada
Quando pediu baixa o vaqueiro zebu
Foi pro beleléu nas bandas do sul
Veúca, moreno, ponez e zezim
Mimosa se foi que nem “passarim”
Baixou sete palmos, luis do exu
Deu uma roleta lá no meio da feira,
Juntou-se um bocado com seu criador
Deu adeus ao mundo mané vendedor
Foi chegada a hora de biu das jumenta
Foi pro rol dos bom, cumpade pimenta
Biu “pedo” firmino por fim descansou
Disseram que nino também “botoou”
Sargento já foi promovido a defunto
Tiraram cirila de lá de pé junto
Perdi meu cumpade,
Não sei quando eu vou

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Luíz Gonzaga (98 anos 13/12)

 
Hoje acordei saudoso
Do nobre Rei do Baião
Que tanto alegrou o povo
Da cidade e do Sertão
Luiz Gonzaga é o seu nome
E o apelido é Gonzagão

Gonzagão nobre poeta
Da cultura popular
No Brasil de Norte a Sul
Fez sua estrela brilhar
Cantando Xote e Baião
Fez a sanfona falar

Na fazenda Caiçara
Nasceu o Rei do Baião
Cresceu tocando zabumba
Mais tarde acordeão
E pelo país inteiro
Mostrou a dor do Sertão

Numa sala de reboco
Dançou com o seu benzinho
Viu Asa Branca voar
Partindo triste do ninho
Mostrou o flagelo da seca
E dançou Xote de mansinho

Por um amor proibido
Luiz Gonzaga apanhou
Revoltado com os pais
O pé na estrada botou
E sem saber o que fazer
No exército se alistou

O "cabra da peste" Gonzaga
Nordestino arretado
Viajou pelo Brasil
Ainda como soldado
Mas no Rio de Janeiro
O "cabra" ficou encantado

Pediu dispensa da farda
E na zona foi tocar
Solando acordeão
Foi tentando se firmar
Tocando samba e choro
Não saia do lugar

Mas como um soldado bravo
Luiz Gonzaga insistiu
E num programa de calouros
Despontou para o Brasil
Quando a platéia de pé
Empolgada lhe aplaudiu

Aos poucos Luiz Gonzaga
Foi mostrando a Nação
Com talento e humildade
Como se canta Baião
Conquistou ricos e pobres
Na cidade e no sertão

Cantou com desenvoltura
Toada, xaxado e xote
Aboio, chamego e baião
No sudeste, sul e norte
O fole da sua sanfona
Somente calou-se com a morte

No ano oitenta e nove
O Brasil entristeceu
Quando o fole da sanfona
De Gonzaga emudeceu
Naquele dois de agosto
O Rei do Baião morreu

Gonzagão deixou saudades
No coração do Brasil
Naquela manhã de agosto
Quando daqui partiu
Mas seu canto ainda ecoa
Pelo céu azul anil


98 anos de Luíz Gonzaga 13/12


 Luiz Gonzaga do Nascimento  (Exu, 13 de dezembro de 1912 — Recife, 2 de agosto de 1989) foi um compositor popular brasileiro, conhecido como o Rei do Baião.

Foi uma das mais completas e inventivas figuras da música popular brasileira. Cantando acompanhado de acordeão, zabumba e triângulo, levou a alegria das festas juninas e dos forrós pé-de-serra, bem como a pobreza, as tristezas e as injustiças de sua árida terra, o sertão nordestino, para o resto do país, numa época em que a maioria das pessoas desconhecia o baião, o xote e o xaxado. Admirado por grandes músicos, como Gilberto Gil e Caetano Veloso, o genial instrumentista e sofisticado inventor de melodia e harmonias, ganhou notoriedade com as antológicas canções Baião (1946), Asa Branca (1947), Siridó (1948), Juazeiro (1948), Qui Nem Giló (1949) e Baião de Dois (1950)

Nasceu na fazenda Caiçara, no sopé da Serra de Araripe, na zona rural de Exu, sertão de Pernambuco. O lugar seria revivido anos mais tarde em "Pé de Serra", uma de suas primeiras composições. Seu pai, Januário, trabalhava na roça, num latifúndio, e nas horas vagas tocava acordeão (também consertava o instrumento). Foi com ele que Luiz Gonzaga aprendeu a tocá-lo. Não era nem adolescente ainda, quando passou a se apresentar em bailes, forrós e feiras, de início acompanhando seu pai. Autêntico representante da cultura nordestina, manteve-se fiel às suas origens mesmo seguindo carreira musical no sul do Brasil. O gênero musical que o consagrou foi o baião. A canção emblemática de sua carreira foi Asa Branca, que compôs em 1947, em parceria com o advogado cearense Humberto Teixeira.

Antes dos dezoito anos, ele se apaixonou por Nazarena, uma moça da região e, repelido pelo pai dela, o coronel Raimundo Deolindo, ameaçou-o de morte. Januário e Santana lhe deram uma surra por isso. Revoltado, Luiz Gonzaga fugiu de casa e ingressou no exército em Crato, Ceará. A partir dali, durante nove anos ele viajou por vários estados brasileiros, como soldado. Em Juiz de Fora-MG, conheceu Domingos Ambrósio, também soldado e conhecido na região pela sua habilidade como acordeonista. Dele, recebeu importantes lições de música.

Em 1939, deu baixa do Exército no Rio de Janeiro, decidido a se dedicar à música. Na então capital do Brasil, começou por tocar na zona do meretrício. No início da carreira, apenas solava acordeão (instrumentista), tendo choros, sambas, fox e outros gêneros da época. Seu repertório era composto basicamente de músicas estrangeiras que apresentava, sem sucesso, em programas de calouros. Apresentava-se com o típico figurino do músico profissional: paletó e gravata. Até que, em 1941, no programa de Ary Barroso, ele foi aplaudido executando Vira e Mexe , um tema de sabor regional, de sua autoria. O sucesso lhe valeu um contrato com a gravadora Victor, pela qual lançou mais de 50 músicas instrumentais. Vira e mexe foi a primeira música que gravou em disco.

Veio depois a sua primeira contratação, pela Rádio Nacional. Foi lá que tomou contato com o acordeonista gaúcho Pedro Raimundo, que usava os trajes típicos da sua região. Foi do contato com este artista que surgiu a ideia de Luiz Gonzaga apresentar-se vestido de vaqueiro - figurino que o consagrou como artista.

Em 11 de abril de 1945, Luiz Gonzaga gravou sua primeira música como cantor, no estúdio da RCA Victor: a mazurca Dança Mariquinha em parceria com Saulo Augusto Silveira Oliveira.

Também em 1945, uma cantora de coro chamada Odalisca Guedes deu à luz um menino, no Rio. Luiz Gonzaga tinha um caso com a moça - iniciado provavelmente quando ela já estava grávida - e assumiu a paternidade do rebento, adotando-o e dando-lhe seu nome: Luiz Gonzaga do Nascimento Júnior. Gonzaguinha foi criado pelos seus padrinhos, com a assistência financeira do artista.

Em 1946 voltou pela primeira vez a Exu (Pernambuco), e o reencontro com seu pai é narrado em sua composição Respeita Januário, parceria com Humberto Teixeira.

Em 1948, casou-se com a pernambucana Helena Cavalcanti, professora que tinha se tornado sua secretária particular. O casal viveu junto até perto do fim da vida de "Lua". E com ela teve outro filho que Lua a Chamava de Rosinha.

Gonzaga sofria de osteoporose. Morreu vítima de parada cardiorrespiratória no Hospital Santa Joana, na capital pernambucana. Seu corpo foi velado em Juazeiro do Norte (a contragosto de Gonzaguinha, que pediu que o corpo fosse levado o mais rápido possível para Exu, irritando várias pessoas que iriam ao velório e tornando Gonzaguinha "persona non grata" em Juazeiro do Norte) e posteriormente sepultado em seu município natal.


SALVE O REI DO BAIÃO

A morte e o matador


Eu num gosto dessa história
Que agora eu vou contá
História de valentia
De brabeza e de fuá
História de muitas morte
"Pru" muita farta de sorte
eu só morri no "finár".
Eu nasci "ditriminado"
A ser grande atiradô
"Ditriminado" a ser "brabo"
"Espaiadêro" de "horrô"
"Sapecadô" de bofete
"Brigadô" de canivete
Faca, peixeira e facão
Trinchete, foice e enxada
De revolver e espingarda
Metralhadora e canhão.
Eu nasci "desaprovido"
Dos lado que todos têm
Num tenho lado criança
Lado mulé, nem do bem
Só tenho lado abusado
E não fico sossegado
Do lado de seu ninguém.
Confesso, sou injuado
Mais sério do que defunto
Num sou de trocar risada
Num sou puxar assunto
Num fujo da "bandidage"
E tendo mula "selvage"
Se for pra muntá eu munto.
Já matei vinte valente
Matei uns dez valentão
Uns vinte e tanto safado
Uns oitocentos ladrão
De traideiro, um punhado
De vigarista afamado
Num me lembro, uma purção.
Eu inté perdi a conta
De quantos tiro já dei
Mas as bala que "cuspiro"
"Chegaro" adonde mirei
Pra não "dizere" a "bobage"
Q'eu falo muita "vantage"
Uns, dois ou três eu errei.
O dia que eu morri
Foi quando tu me "olhô"
Todas "fulôre" que "chêra"
Naquele dia "cheirô"
Todas estrela que "bria"
Naquele dia "briou"
As "passarada" que canta
Naquele dia cantô
Todo "brabo" que não chora
Naquele dia "chorô"
Porque todo "amô" que mata
Naquele dia matô.
"Pru" riba de tantos causo
Sei que morrê não mereço
Tô no céu, tô nos teus braço
De quaje nada padeço
Por isso a partir "dagora"
Só vou contá minha história
morrendo já no começo.

domingo, 12 de dezembro de 2010

Peleja em mei de feira

     
Feira de interior
tem vendendor e trambiqueiro
rezador e macumbeiro
e um bando d fuleiro
querendo arrumar briga
fazendo um mói d intriga
até pegar um caba bruto
que é daqueles bem matuto
que puxa o facão e ameaça de morte
dizendo que vai fazer um corte bem no mei desse puto.
O fulero que tava quase se cagando
ja vai logo arregando
dizendo que aquilo tudo foi engano.
O matuto que num é besta nem nada
dale logo uma lapada
pra ficar a mão marcada de tamanha bufetada
O fulero sai correndo com medo do valente
vai gritando "sai da frente" pra todo pessoal
que vai descendo o pau enquanto o caba corre
mais um pouco e ele morre
de tanto apanhar
ele diz que vai voltar
vai trazer mei mundo de gente
vai pegar esse valente
vai metele no batente e depois vai lhe matar.
O valente que num era besta tava privinido
ja era um home bem vivido
esperando um lascado
todo endiabrado e com jeito de metido.
Depois de meia hora la vem o safado
com 3 caba marombado
e com brinquinho na oreia
e é tudo de pareia até parece uns viado.
O valente tava lá esperando o momento certo
quando o caba chegou perto
ele deu-lhe uma facada
que até a matutada ficou toda assustada
vendo o caba ser aberto.

Meu Cordel


Se eu tivesse a força de um jumento
e a leveza de um peixe no cardume
a magia de um nobre vagalume
cortando a escuridão de uma lagoa
e o camuflar de uma camaleoa
ludibriando o olhar despercebido 
e o rugido de um tigre enfurecido
cabreirando o olhar de um corcel
sem poder declamar o meu cordel
preferia dez vez nem ter nascido

Se eu tivesse o cheiro de milho assado
boi guizado num prato com farinha
e um quintá impestado de galinha
e dinheiro que nunca se acabasse
e um rozario que sozinho rezasse
enquanto eu tivesse adormecido
fazer chover que nem meu padin ciço
e ter a chave da porta do céu
sem poder declamar o meu cordel 
preferia dez vez nem ter nascido

Se eu tivesse o folego de uma cigarra
e avuasse que nem um carcará
e tivesse o poder de desvendar
o segredo de um pezin d maliça
que so fecha a porta pra ir pra missa
ao toque dum muleque mal ouvido
e pudesse entender todo mugido
dos meus boi no currá cheirando a mel
sem poder declamar o meu cordel
preferia dez vez nem ter nascido

Se eu tivesse a coragem de Curisco
cangaceiro fiel de Lampião
e as asas de um cavalo do cão
abanando um inxú de mangangá
e as presa amolada de um jaguá
espantando as hiena da carniça
e a calma invejável da preguiça
e o veneno fatal da cascavel
sem poder declamar o meu cordel
preferia dez vez nem ter nascido

Se eu tivesse o mundo em meu terreiro
e a lua dentro do meu guarda roupa
todas as estrelas em meu céu da boca
só pra quando eu sorrir te iluminar
e tivesse toda água do mar
pra de noite eu lavar os meus castigo
ser o dono do tempo infinito
e guardar tudo isso em meu chapéu
sem poder declamar o meu cordel
preferia dez vez nem ter nascido.
(Rogério e os cabra)

                                                                                           

Matuto doente das parte


No tronco do ser humano,
Nos “finar” mais derradeiro
Tem uma rosquinha enfezada
Que quando tá inflamada
Incomoda o corpo inteiro
Se tossir, se faz presente
E se chorar se faz também
O “cabra” não pode nada
Com nada se entretém
Eu lhe digo, meu “cumpade”
Não desejo essa “mardade” pra rosca de seu ninguém
Não sei o nome da cuja
Desta cuja eu tiro o ja
O que resta é quase nada
Bote o nada na parada
Quero ver tu agüentar
Eu lhe digo meu “cumpade”
Que é grande humilhação
Um cabra do meu quilate,
Adoecido das parte,
Fazer uma operação
Não suportando mais dor,
O meu ato derradeiro
Foi procurar um doutor
Do bocado arengueiro
Do bocado arengueiro,
Feijoeiro, fiofó, bufante,
Frescó, lorto, apito,
Brote e bozó.
De furico, fedegoso,
Piscante, pelado, boga,
Fosquete, frinfra, sedém
Zueiro, ficha, vintém,
De ás de copa e de foba.
De oiti, “oi” de porco,
“ané” de couro e cagueiro,
De girassol, goiaba,
Roseta, rosa,
Rabada, boto, zero,
“miaieiro”, de nó dos fundo,
Buzeco, de sonoro e pregueado,
Rabichol, furo, argola,
“ané” de ouro e de sola,
Boca de “veia” e zangado
Um doutor de aro treze,
De peidante e zé de boga,
Que não aperte o danado
Nem deixe com muita folga, “né”?
Um doutor “picialista” em bocada tarraqueta,
Doutor de quinca, dentrol,
Zé besquete, carrapeta
Doutor de rosca,
Rosquinha, tareco,
Frasco e obrón
Ceguinho, botico, zero,
Tripa gaiteira, fonfom,
“miaieiro”, mucumbuco,
Boraco, proa, polgueiro,
Forever, cloaca, urna,
Gritador, frango e fueiro
Cano de escape, pretinho,
Rodinha, x.p.t.o.,
Zerinho, “subiador”,
Tripa oca e fiofó
Um doutor de elitório ou de boca de caçapa
Que não seja inimigo,
Também não seja meu chapa
Tratador de canto escuro,
De boréu e de cheiroso,
De formiróide alvado,
De parreco e de manhoso,
De xambica e sibasol,
Apolônio e fobilário,
Bilé, brioco e “roxim”
Fresado, anilha e cagário
Vaso preto, zé careta,
Olho cego e espoleta,
Fuzil, fioto e foário
Não é doutor de ovário,
É doutor de orió!
De cá pra nós e bostoque,
De futrico e de ilhó,
De coliseu e caneco,
Roscofe, forno e botão
De disco, de farinheiro,
De jolie, fundo e fundão,
De cuovades, fichinha,
Que não vinha com gracinha
E que não tenha o dedão.
Um doutor de zé de quinca,
Canal dois e cagador
Buzina, vesúvio, cego,
Federais, sim senhor
“fagüieiro”, zé zoada,
Rosquete e fim de regada
Eu só queria um doutor!
O doutor se preparou-se,
Parecia galileu
Aprumou um telescópio
Quem viu estrela fui eu
Ele disse:
“arriba as pernas”
Eu disse:
“tenha calma, sonho meu”
A partir daquela hora,
Perante nossa senhora,
Não sei o que “assucedeu”
Com as forças da humildade,
Já me sinto mais “mior”
Me desejo um ânus novo,
Cheio de “velso” e forró
E pros “cumpade”, com franqueza,
Desejo grande riqueza:
Saúde no fiofó.

Virgulino Lampião deputado federá

Seus Dotôres Deputado
falo sem tutubiá
pra mostrá que nós matuto
sabe se pronunciá
dizê que ta um presídio
com dó e matuticídio
a vida nesse lugá
O Brasí surgiu de nós
nós tudo que vem da massa
deram um nó no mêi de nós
que nós desse nó não passa
e de quatro em quatro ano
vem vocês com o veio plano
desata o nó e se abraça
Tamo chêi dessa bostice
de promessa e eleição
dos que vem de vem em quanto
se rindo, estendeno a mão
candidato a caloteiro
aprendiz de trapaceiro
corruto, falso e ladrão.
A coisa ta enveigada
ta ruim de devenveigá
meu sistema neuvosíssimo
vejo a hora se estorá
se estóra eu não engano
cuma diz o americano
na matança eu tem norrá.
Quero que vocês refrita
o falá da minha fala
pelo cano do revóve
magine o tamãe da bala.
Vocês que véve arrimado
nas bengala do podê
dou um chuto na bengala
mode alejado corrê
dou dedo, faço munganga
canto Ouvira do Ypiranga
e mando tudo se fudê.
Acunho logo a tramela
nas porta da corrução
toco fogo na lixeira
e passo de mão em mão
corto língua de quem mente
quebro três ou quatro dente
dos Deputado risão.
Político que come uva
em plena safra de manga
vai pra lei dos desperdiço
nas faca dos meus capanga.
Se eu der um tiro no mato
e bater num marinheiro
é porque tem mais honesto
do que cabra trambiqueiro
diante dessa nutiça
não haverá injustiça
é a lei dos cangaceiro.
Os deputado bom de pêia
eu tiro o “W” do nome
tiro vírgula dos discurso
reticença e pisilone
sapeco lei pra matuto
meto bala nesses puto
e um viva no microfone.
Matuto que tem saúde
pro trabaio ele é capaz
nós se vira, arruma água
as sementes e o preço em paz
não vai sê protecionismo
é a lei do Nordestinismo
dos Problemas Matutais.
Debuiado este discurso
pros Dotôre e Deputado
ta dizido minha meta
pra cem bilhão de roçado
depois não venham dizê
que foi golpe de pudê
proque não foram avisado
Partido dos Cangaceiro
o PC dos natura
pela lei da ignorança
do Congresso Federá
assinado Capitão
Virgulino Lampião
Deputado Federá.

Endereço de Matuto

 
Daqui até lá em casa,
no sítio caga chapéu
da um bocado de légua homi

mas num é leguinha besta
nem légua de beiço não
é légua macha, abafada,
dessas légua má criada medida a rabo de cão

você saindo daqui nem querendo você erra
no oitão do cemitério pega a viela de terra,
desce em toinho farineiro
passa a água branca assenta de zefinha lavadeira
daí pra frente é só estrada

Eita cumpade vei
depois da reta pegada,
avista o esbarro d'água,
do pai de mané maior

avista o tamarineiro fulorado e sombriado,
e seu zé vacinador
quando chega nas quebrada do razo da macaíba
pego o matimbumbo urrado que o cabra morre num chega
no lagedo da formiga
e tome estrada

avistando um pé de pau com paricença de ipê
ai o cumpade vê uma pista arreganhada
prontinha se oferecendo pro caba que aparecer
mas ai você num queira,
diz essa num apriceio

pega a trilha carroçavi
com duas baxa dur lado e a cabileira no meio
e daí pra frente é estrada

bem dizer já tamu dento da avenida do capim
toca em riba da babugi,
coberta de pisadura
e tome rédia esticada do começo até o fim

é estrada festejada com cerca de todo tipo
é cerca de enchimento,
de vara, de pau apique,
de lance,aveloiz, de pedra
cama no chão, trançada,
pedra dobrada, aramada e travessão

e abre e fecha porteira
porteira de pau em pé,
de morão, de pau corrido,
de cochete e zigui-zagui
e o caba ali no monté
e tome estrada meu cumpade

se chegar numa porteira lambusada de azul,
ai o cumpade erro
volte dez braça pra trais
e quebre o braço direito
aonde começa a maigosa,
a terra de meu amor

é... oi quando der numa caiera
de pretura acarvonada
pega a subida abusada do cerrote do moi moi

é trecho pau cum formiga
é ladeira enladerada
se o caba sobe fumando
cai cinza dentro dos zoi

é, bem dizer num chega em riba
pega a gangorra descendo,
da ribanceira pra bacho é sítio caga chapéu

avistando o mundaréo,
dali você tá me vendo
vê gado e capim mimoso
e estado de bachiu

um estado de balaio, laranja, manga, limão
pé de jaca, jaquejando
e caju de vez em quando cajuindo pelo chão

não dá um pulo de grilo pra chegar no meu terrero
é rudiá o açude que o caboco morre e se mata
o cabra logo se anima,
na sombra do juazeiro

é uma cazinha alpendrada
com cinco bico de luiz,
um cachorro reberuaite
mas abana logo o rabo pra nego vei e cuscuiz

Cordel

Parafuso de cabo de serrote

 
Tem uma placa de Fanta encardida
A bodega da rua enladeirada
Meia dúzia de portas arqueadas
E uma grande ingazeira na esquina
A ladeira pra frente se declina
E a calçada vai reta nivelada
Forma palmos de altura de calçada
Que nos dias de feira o bodegueiro
Faz comércio rasteiro e barateiro
Num assoalho de lona amarelada.
Se espalha uma colcha de mangalho:
É cabestro, é cangalha e é peixeira
Urupema, pilão, desnatadeira
Candeeiro, cabaço e armador
Enxadeco, fueiro, e amolador
Alpercata, chicote e landuá
Arataca, bisaco e alguidar
Pé de cabra, chocalho e dobradiça
Se olhar duma vez dá uma doidiça
Que é capaz do matuto se endoidar.
É bodega pequena cor de gis
Sortimento surtindo grande efeito
Meia dúzia de frascos de confeito
Carrossel de açúcar dos guris
Querosene se encontra nos barris
Onde a gata amamenta a gataiada
Sacaria de boca arregaçada
Gargarejo de milhos e farelos
Dois ou três tamboretes em flagelo
Pro conforto de toda freguesada.
No balcão de madeira descascada
Duas torres de vidro são vitrines
A de cá mais parece um magazine
Com perfume e cartelas de Gillete
Brilhantina safada, canivete
Sabonete, batom... tudo entrempado
Filizolla balança bem ao lado
Seus dois pratos com pesos reluzentes
Dá justeza de peso a toda gente
Convencendo o freguês desconfiado.
A Segunda vitrine é de pão doce
É tareco, siquilho e cocorote
Broa, solda, bolacha de pacote
Bolo fofo e jaú esfarofado
Um porrete serrado e lapidado
Faz o peso prum março de papel
Se embrulha de tudo a granel
E por dentro se encontra uma gaveta
Donde desembainha-se a caderneta
Do freguês pagador e mais fiel.
Prateleiras são tábuas enjanbradas
Com um caibro servindo de escora
Tem também não sei qual Nossa Senhora
Com um jarrinho de louça bem do lado
Um trapézio de flandres areados
Um jirau com manteiga de latão
Encostado ao lado do balcão
Um caneiro embicando uma lapada
Passa as costas da mão pelas beiçadas
Se apruma e sai dando trupicão.
Tem cabides de copos pendurados
E um curral de cachaça e de conhaque
Logo ao lado se vê carne de charque
Tira gosto dos goles caneados
Pelotões de garrafas bem fardados
Nas paredes e dentro dos caixotes
Tem rodilha de fumo dando um bote
E um trinchete enfiado num sabão
Bodegueiro despacha a um artesão
Parafuso de cabo de serrote.

sábado, 11 de dezembro de 2010

Rasga Rabo


Trupizupe oia tu num me assusta
com a fama da tua valentia
porque esta macheza é freguesia
e até nem me parece tão robusta
uma boa palmada não me custa
pois no fundo eu te acho delicado
se tu és um valente escolado
eu quebrei no cacete a tua escola
o teu mestre saiu de padiola
e teu supervisor invertebrado.

No jardim de infância eu fui valente
e o nome da escola era bufete
no primário estudei no canivete
no ginásio no bote de serpente
como eu era um aluno inteligente
logo cedo já tinha me formado
Lampião tinha sido reprovado
por froxura e por falta de frieza
hoje, pós-graduado em malvadeza,
vendo pena de morte no mercado.

Eu sou topada de unha encravada
Sou gilete no mei do tobogã
Sou o flagra da foda no divã
Sou feiúra dum talho de inchada
Sou um choque no furo da tomada
Sou ferrugem na agulha de injeção
Sou judeu se vingando de alemão
Cata-vento voando num comício
Sou a falta de droga num hospício
Queimadura de larva de vulcão.

Sou rolo compressor desgovernado
Libanês dirigindo um carro-bomba
Sou uns 300 quilos de maromba
Despencando do braço levantado
Sou carrasco esperando um condenado
Sou a queda fatal da guilhotina
Metralhada cruel de uma chacina
Marretada no dedo polegar
Eu sou o fósforo acesso pra fumar
Que explodiu o tambor de gasolina.

Eu sou a folha perversa da urtiga
Despontando no vaso sanitário
Querosene na mão do incendiário
Solitária mexendo na barriga
Sou machado afiado numa briga
Sou o chifre botado em Romeu
Sou Menguele com raiva de judeu
Sou o tiro certeiro do arpão
Sou a aids injetada no machão
Que enlouquece jurando que não deu.

Eu sou navalha na mão de delinqüente
Jacaré triturando um caçador
Tirotei dentro dum elevador
Araldite numa escova de dente
Eu sou ninho de cobra num acidente
Sou ladrão seqüestrando um delegado
Comeine depois do atentado
Sou 500 mil watts de energia
Sou tesoura cruel de cirurgia
Que ficou na barriga do operado.

Eu sou o estouro brutal de uma boiada
Sou a fúria de um tubarão faminto
Cão de guarda trancado num recinto
Sou três tapas depois de uma facada
Eu sou rinoceronte em disparada
Explosão de usina nuclear
Sou mudança que cai do décimo andar
Sou o corte inflamado do punhal
Cianureto maior que sonrrisal
Que o nazista obrigou a mastigar.

Eu sou o maior beliscão do alicate
Maçarico cortando gente ruim
Tiro ao alvo na cara de Delfim
Criolina na sopa de tomate
Eu sou o pênalti perdido num empate
Sou scania sem frei na contramão
Gente besta coberto de razão
Matador disfarçado de molengo
Sou torcida irada do flamengo
Perseguindo o juiz que foi ladrão.

Eu sou explosão de foguete iraniano
Que subiu carregado de safado
Sou negrada invadindo o senado
Dando o golpe em galego africano
Peixerada de paraibano
Sou mijada na cara do doutor
Instrumento de esquartejador
Sou engasgo com bola de sinuca
Eu sou o tiro certeiro de bazuca
Que matou o infeliz do ditador

Trupizupe prepara a tua cova
é chegado o dia da decisão
vai fazer tua última comunhão
pois eu já preparei a tua prova
de arame farpado vai ter sova
vai lembrando do teu aprendizado
pois eu já to ficando endiabrado
só de raiva já dei um saculejo
dei até beliscão num azulejo
mas ainda não to mal-humorado.

    Paisagem de Interior


    Matuto no mêi da pista
    menino chorando nu
    rolo de fumo e beiju
    colchão de palha listrado
    um par de bêbo agarrado
    preto véio rezador
    jumento jipe e trator
    lençol voando estendido
    isso é cagado e cuspido
    paisagem de interior.
     

    Três moleque fedorento  
    morcegando um caminhão
    chapéu de couro e gibão
    bodega com surtimento
    poeira no pé de vento
    tabulêro de cocada
    banguela dando risada
    das prosa do cantador
    buchuda sentindo dor
    com o filho quase parido
    isso é cagado e cuspido
    paisagem de interior.

    Bêbo lascando a canela
    escorregando na fruta
    num batente, uma matuta
    areando uma panela
    cachorro numa cadela
    se livrando das pedrada
    ciscador corda e enxada
    na mão do agricultor
    no jardim, um beija-flor
    num pé de planta florido
    isso é cagado e cuspido
    paisagem de interior.
     
    Mastruz e erva-cidreira
    debaixo dum jatobá
    menino querendo olhar
    as calça da lavadeira
    um chiado de porteira
    um fole de oito baixo
    pitomba boa no cacho
    um canário cantador
    caminhão de eleitor
    com os voto tudo vendido
    isso é cagado e cuspido
    paisagem de interior.

    Um motorista cangueiro
    um jipe chêi de batata
    um balai de alpercata
    porca gorda no chiqueiro
    um camelô trambiqueiro
    avelós e lagartixa
    bode véio de barbicha
    bisaco de caçador
    um vaqueiro aboiador
    bodegueiro adormecido
    isso é cagado e cuspido
    paisagem de interior.

    Meninas na cirandinha
    um pula corda e um toca
    varredeira na fofoca
    uma saca de farinha
    cacarejo de galinha
    novena no mês de maio
    vira-lata e papagaio
    carroça de amolador
    fachada de toda cor
    um bruguelim desnutrido
    isso é cagado e cuspido
    paisagem de interior.

    Uma jumenta viçando
    jumento correndo atrás
    um candeeiro de gás
    véi na cadeira bufando
    radio de pilha tocando
    um choriço, um manguzá
    um galho de trapiá
    carregado de fulô
    fogareiro abanador
    um matador destemido
    isso é cagado e cuspido
    paisagem de interior.

    Um soldador de panela
    debaixo da gameleira
    sovaqueira, balinheira
    uma maleta amarela
    rapariga na janela
    casa de taipa e latada
    nuvilha dando mijada
    na calçada do doutor
    toalha no aquarador
    um terreiro bem varrido
    isso é cagado e cuspido
    paisagem de interior.

    Um forró de pé de serra
    fogueira milho e balão
    um tum-tum-tum de pilão
    um cabritinho que berra
    uma manteiga da terra
    zoada no mêi da feira
    facada na gafieira
    matuto respeitador
    padre, prefeito e doutor
    os home mais entendido
    isso é cagado e cuspido
    paisagem de interior.

    Apresentação


    Olá galera estou aqui para mostrar um pouco na vida do interior, aquela vidinha simples mas cheia de sentimento e muito bem aproveitada, a infancia jogando chimbre, rodando peão, indo na budega comprar estilingue, pegando bigú em caminhão, olhando a feira de passarinho, comprando cocada e muitas outras coisas.

    Aqui postarei cordel, musicas, fotos, causos e tudo relacionado ao interior.