quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Vou voltar pro meu passado

       
Cheguei na capitá
e ja fiquei mei azoado
com aquela barulheira
buzina pra todo lado
minino novo chorando
mulher sendo roubada
carro vei buzinando
moto veia quebrada
dando um mói de pipoco
quase que eu fico moco
com toda aquela zoada

Vou voltar pro meu lugar
donde nem devia ter saído
deitar na minha rede
escutar todo mugido
matar a minha sede
com meu suco preferido
respirar o ar mais puro
e não essa fumaceira
aqui se ver o ar
o grude e a poeira

Aqui a comida é toda empacotada
se sente o gosto do plastico
e da comida enlatada
sinto falta do toicin
dos ovo e da rabada.
comida de verdade
comida que tem sustança
lá eu era forte
parecia uma criança
aqui me sinto fraco, velho
e acabado, talvez seja o ar
talvez seja o enfado,
vou voltar pra minha terra
vou voltar pro meu passado.

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

4 Ave Maria bem cheia de graça


  Rezo quatro ave-maria
Ao Glorioso São Gerome
Pra que nos livre da dor
Da agonia e da fome
Duma casa com goteira
Cacimba longe de casa
Dente de piranha preta
Dum teco-teco sem asa
Dum sem pensar no juízo
Dum teje preso ou cadeia!
De sofrer uma cambrainha
Bem cedo de manhãzinha
Por ter pisado sem meia.
Da tercerez desse mundo
De passagem só de ida
Ferroada de lacrau
Coice de besta parida
Nos livre da companhia
Dum cabra chato e pidão
Dum sujeito bexigoso
Sem figo e sem coração
Duma tosse igrejeira
Dum trupicão de ladeira
Duma laigada de mão
Nos livre da punição
Da saúde canigada
Pois a enxada na mão
É melhor que mão inchada
Nos livre duma dentada
Dum vira-lata ispritado
Picada de mangangá
Dum sordado macriado
Dum baque de rede pensa
De briga de má-querença
Dum jogo marradiado.
Nos livre dum nôro besta
Ou duma genra fregona
Que Zé meu abaixe o facho
Pro lado daquela dona
Nos livre duma visage
De alma braba e defunto...
Puxando agora de banda
Disgaviando o assunto
Nos livre daqui pra diante
Do roubo dos governante
Coisa que duvido muito.

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Agruras de lata dágua

 
E eu que fui enjeitada
Só porque era furada.
Me botaram um pau na boca,
Sabão grudaram no furo,
Me obrigaram a levar água
Muitas vezes pendurada,
Muitas vezes num jumento.
Era aquele sofrimento,
As juntas enferrujadas.
Fiquei com o fundo comido.
Quando pensei que tivesse
Minha batalha cumprido,
Um remendo me fizeram:
Tome madeira no fundo
E tome água e leva água,
E tome água e leva água.
Daí nasceu minha mágua:
O pau da boca caía,
Os beiços não resistiam.
Me fizeram um troca-troca:
Lá vem o fundo pra boca,
Lá vai o pau para o fundo.
Que trocado mais sem graça
Na frente de todo mundo.
E tome água e leva água
E tome água e leva água.
Já quase toda enfadada,
Provei lavagem de porco,
Ai mexeram de novo:
Botaram o pau na beirada.
E assim desconchavada,
Medi areia e cimento,
Carreguei muito concreto
Molhado duro e friento,
Sofri de peitos aberto,
Levei baque dei peitada.
Me amassaram as beiradas,
Cortaram minhas entranhas.
Lá fui eu assar castanha,
Fui por fim escancarada.
Servi de cocho de porco
Servi também de latada.
Se a coisa não complica,
Talvez eu seja uma bica
Pela próxima invernada.
E inverno é chuva, é água,
E eu encherei outras latas
Cumprindo minha jornada.

Hoje em dia viadage mudou de nome

Vou falar agora dum povin adolescente
que se divide em tribo e são um pouco diferente
é tudo de cabelo lambido, brinco e tatuage
eles tem um mói de nome mas pra mim é viadage
ta tudo hoje muito mal acostumado
sai dando a roda por aí e ainda diz que num é viado
e é tudo colorido parecendo umas pintura
pra mim tudo é viado cada um com a sua frescura
eu num to com preconceito
mas so de olhar p o sujeito
a vontade que da é d meter a mão nos peito.
Hoje em dia num tem idade p ser viado
pode ser novin e ja ter jeito d safado
no meu tempo o q se tinha era viado assumido
agora é emo, bi e colorido
hoje em dia ta uma verdadeira loucura
mas como eu digo cada um cm sua frescura.

A morrença dos meus cumpade


(Ninguém sabe se a morte é virgula, ponto-e-vírgula ou ponto final
No interior, quando morre um “cumpade”,
Mas desses “cumpade” de alma boa e manso viver,
Aí o matuto, lamentando essa perda, diz:
“a morte é um doido limpando mato”
"a morrença dos meus cumpade” trata dessa edição de capa dura da vida)
Mas como é que pode?
Dois caba tá vivo,
Forgoso, garboso,
Da vida se rir!
Os coro da testa sem nunca franzir,
Disposto na luta,
Lutando com pente,
Sem mesmo dar canso de ser um vivente,
Um corre pro sul mó de “podregir”,
O outro “pogrede” mesmo por aqui
A morte carrega os dois indivíduo,
Dá uma descurpa:
“morreu por derito,
O outro, coitado, morreu de nuí.”
Cumpade “coitim” bateu a biela,
Sem “frei” nas estrada, em riba dum fó.
Pedim defuntou-se no “mei” dum forró,
Honório pifou com a mão na bainha,
Quem enviuvou gorete e ritinha,
Foi joão “cascaver” e bento cotó
Bié de zé tôta fechou o paletó,
Mudou-se pro céu cumpade biliu,
Cumpade zé danta ninguém nunca viu,
Mas dizem que foi-se daqui pra “mió”.
Quem bateu as bota foi zé bacamarte,
Findou-se de vez cumpade zulu,
Quem empacotou-se com tanta pitu
Foi pinga, meloso, meota e topada.
Ginura já tava na última morada
Quando pediu baixa o vaqueiro zebu
Foi pro beleléu nas bandas do sul
Veúca, moreno, ponez e zezim
Mimosa se foi que nem “passarim”
Baixou sete palmos, luis do exu
Deu uma roleta lá no meio da feira,
Juntou-se um bocado com seu criador
Deu adeus ao mundo mané vendedor
Foi chegada a hora de biu das jumenta
Foi pro rol dos bom, cumpade pimenta
Biu “pedo” firmino por fim descansou
Disseram que nino também “botoou”
Sargento já foi promovido a defunto
Tiraram cirila de lá de pé junto
Perdi meu cumpade,
Não sei quando eu vou

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Luíz Gonzaga (98 anos 13/12)

 
Hoje acordei saudoso
Do nobre Rei do Baião
Que tanto alegrou o povo
Da cidade e do Sertão
Luiz Gonzaga é o seu nome
E o apelido é Gonzagão

Gonzagão nobre poeta
Da cultura popular
No Brasil de Norte a Sul
Fez sua estrela brilhar
Cantando Xote e Baião
Fez a sanfona falar

Na fazenda Caiçara
Nasceu o Rei do Baião
Cresceu tocando zabumba
Mais tarde acordeão
E pelo país inteiro
Mostrou a dor do Sertão

Numa sala de reboco
Dançou com o seu benzinho
Viu Asa Branca voar
Partindo triste do ninho
Mostrou o flagelo da seca
E dançou Xote de mansinho

Por um amor proibido
Luiz Gonzaga apanhou
Revoltado com os pais
O pé na estrada botou
E sem saber o que fazer
No exército se alistou

O "cabra da peste" Gonzaga
Nordestino arretado
Viajou pelo Brasil
Ainda como soldado
Mas no Rio de Janeiro
O "cabra" ficou encantado

Pediu dispensa da farda
E na zona foi tocar
Solando acordeão
Foi tentando se firmar
Tocando samba e choro
Não saia do lugar

Mas como um soldado bravo
Luiz Gonzaga insistiu
E num programa de calouros
Despontou para o Brasil
Quando a platéia de pé
Empolgada lhe aplaudiu

Aos poucos Luiz Gonzaga
Foi mostrando a Nação
Com talento e humildade
Como se canta Baião
Conquistou ricos e pobres
Na cidade e no sertão

Cantou com desenvoltura
Toada, xaxado e xote
Aboio, chamego e baião
No sudeste, sul e norte
O fole da sua sanfona
Somente calou-se com a morte

No ano oitenta e nove
O Brasil entristeceu
Quando o fole da sanfona
De Gonzaga emudeceu
Naquele dois de agosto
O Rei do Baião morreu

Gonzagão deixou saudades
No coração do Brasil
Naquela manhã de agosto
Quando daqui partiu
Mas seu canto ainda ecoa
Pelo céu azul anil


98 anos de Luíz Gonzaga 13/12


 Luiz Gonzaga do Nascimento  (Exu, 13 de dezembro de 1912 — Recife, 2 de agosto de 1989) foi um compositor popular brasileiro, conhecido como o Rei do Baião.

Foi uma das mais completas e inventivas figuras da música popular brasileira. Cantando acompanhado de acordeão, zabumba e triângulo, levou a alegria das festas juninas e dos forrós pé-de-serra, bem como a pobreza, as tristezas e as injustiças de sua árida terra, o sertão nordestino, para o resto do país, numa época em que a maioria das pessoas desconhecia o baião, o xote e o xaxado. Admirado por grandes músicos, como Gilberto Gil e Caetano Veloso, o genial instrumentista e sofisticado inventor de melodia e harmonias, ganhou notoriedade com as antológicas canções Baião (1946), Asa Branca (1947), Siridó (1948), Juazeiro (1948), Qui Nem Giló (1949) e Baião de Dois (1950)

Nasceu na fazenda Caiçara, no sopé da Serra de Araripe, na zona rural de Exu, sertão de Pernambuco. O lugar seria revivido anos mais tarde em "Pé de Serra", uma de suas primeiras composições. Seu pai, Januário, trabalhava na roça, num latifúndio, e nas horas vagas tocava acordeão (também consertava o instrumento). Foi com ele que Luiz Gonzaga aprendeu a tocá-lo. Não era nem adolescente ainda, quando passou a se apresentar em bailes, forrós e feiras, de início acompanhando seu pai. Autêntico representante da cultura nordestina, manteve-se fiel às suas origens mesmo seguindo carreira musical no sul do Brasil. O gênero musical que o consagrou foi o baião. A canção emblemática de sua carreira foi Asa Branca, que compôs em 1947, em parceria com o advogado cearense Humberto Teixeira.

Antes dos dezoito anos, ele se apaixonou por Nazarena, uma moça da região e, repelido pelo pai dela, o coronel Raimundo Deolindo, ameaçou-o de morte. Januário e Santana lhe deram uma surra por isso. Revoltado, Luiz Gonzaga fugiu de casa e ingressou no exército em Crato, Ceará. A partir dali, durante nove anos ele viajou por vários estados brasileiros, como soldado. Em Juiz de Fora-MG, conheceu Domingos Ambrósio, também soldado e conhecido na região pela sua habilidade como acordeonista. Dele, recebeu importantes lições de música.

Em 1939, deu baixa do Exército no Rio de Janeiro, decidido a se dedicar à música. Na então capital do Brasil, começou por tocar na zona do meretrício. No início da carreira, apenas solava acordeão (instrumentista), tendo choros, sambas, fox e outros gêneros da época. Seu repertório era composto basicamente de músicas estrangeiras que apresentava, sem sucesso, em programas de calouros. Apresentava-se com o típico figurino do músico profissional: paletó e gravata. Até que, em 1941, no programa de Ary Barroso, ele foi aplaudido executando Vira e Mexe , um tema de sabor regional, de sua autoria. O sucesso lhe valeu um contrato com a gravadora Victor, pela qual lançou mais de 50 músicas instrumentais. Vira e mexe foi a primeira música que gravou em disco.

Veio depois a sua primeira contratação, pela Rádio Nacional. Foi lá que tomou contato com o acordeonista gaúcho Pedro Raimundo, que usava os trajes típicos da sua região. Foi do contato com este artista que surgiu a ideia de Luiz Gonzaga apresentar-se vestido de vaqueiro - figurino que o consagrou como artista.

Em 11 de abril de 1945, Luiz Gonzaga gravou sua primeira música como cantor, no estúdio da RCA Victor: a mazurca Dança Mariquinha em parceria com Saulo Augusto Silveira Oliveira.

Também em 1945, uma cantora de coro chamada Odalisca Guedes deu à luz um menino, no Rio. Luiz Gonzaga tinha um caso com a moça - iniciado provavelmente quando ela já estava grávida - e assumiu a paternidade do rebento, adotando-o e dando-lhe seu nome: Luiz Gonzaga do Nascimento Júnior. Gonzaguinha foi criado pelos seus padrinhos, com a assistência financeira do artista.

Em 1946 voltou pela primeira vez a Exu (Pernambuco), e o reencontro com seu pai é narrado em sua composição Respeita Januário, parceria com Humberto Teixeira.

Em 1948, casou-se com a pernambucana Helena Cavalcanti, professora que tinha se tornado sua secretária particular. O casal viveu junto até perto do fim da vida de "Lua". E com ela teve outro filho que Lua a Chamava de Rosinha.

Gonzaga sofria de osteoporose. Morreu vítima de parada cardiorrespiratória no Hospital Santa Joana, na capital pernambucana. Seu corpo foi velado em Juazeiro do Norte (a contragosto de Gonzaguinha, que pediu que o corpo fosse levado o mais rápido possível para Exu, irritando várias pessoas que iriam ao velório e tornando Gonzaguinha "persona non grata" em Juazeiro do Norte) e posteriormente sepultado em seu município natal.


SALVE O REI DO BAIÃO